Estava todo mundo comentando sobre a crise. È crise pra cá e crise para lá, o pessoal não falava em outra coisa. Inclusive a imprensa também comentava que os mais atingidos eram as pessoas mais ricas e que a crise pegou em cheio as grandes companhias. A coisa foi feia mesmo, mas será que foi tão feia assim, chegar aquele ponto. Francamente. A continuar daquele jeito onde é que nós vamos parar.
O pessoal no ponto de ônibus não estava acreditando. O homem estava até que bem vestido, trajava calça e camisa social inclusive com uma gravata, ele estava completamente fora de si. Revirava com voracidade os grandes sacos de lixo do condomínio que estavam na calçada, eram sacos de lixo enormes que vinham dos cinco edifícios. O homem estava completamente fora de si a ponto de quase entrar nos sacos. Ele revirava daqui e acolá, o pessoal pensou: puxa vida essa crise é brava mesmo o cara estava revirando até o lixo e quase bateu num catador de lata que queria se ajuntar a ele.
Tudo por causa de um bilhete da mega sena que ele tinha acabado de fazer e havia se extraviado. O desespero era de certa forma até que justificado porque ele jogava aquelas dezenas por mais de quinze anos e, por engano, ele jogou no lixo.
Agora, lá estava ele naquela humilhação só para tentar encontrar o jogo, pensava ele: Já imaginou se eu não achar o bilhete e as dezenas forem sorteadas.
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Edilson Rodrigues Silva
