Ele, um santista moderadamente
fanático, tinha preparado o sofá, o cobertor, os salgadinhos, a pipoca, os docinhos
e, principalmente, tinha deixado a esposa dele no shopping para que ela tivesse
uma linda tarde de compras. Tudo isso só
para que ele e o filho dele pudessem acompanhar tranquilamente o primeiro jogo
do Santos x Guarani pela final do campeonato Paulista de 2012.
Aquele campeonato era especial. Se o Santos
Futebol Clube ganhasse o titulo, seria a primeira vez, depois da era Pelé, que
um time da Vila Belmiro conseguiria ser tricampeão paulista.
O Santos de Neymar. Ganso, Arouca,
Elano, Muricy e companhia estava impossível, principalmente o “Ousadia e
alegria”. A ansiedade era grande. O jogo prometia grandes emoções.
Logo no começo do jogo enquanto o
Neymar já estava mostrado pra todo mundo que ele não estava para brincadeiras o
telefone dele tocou:
- Filho, deve ser a sua mãe. Fala pra
ela que depois eu ligo.
- Não é a mãe pai.
- Não! Quem é?
- A pessoa falou que é da firma de TV
a cabo.
- TV a cabo? Puxa vida! Essa hora. Ele,
como era gente fina pra mais de metro, resolveu atender a pessoa.
Depois de cinco minutos o telefone
Tocou novamente. Era a moça da companhia telefônica. Ele, um verdadeiro bom
samaritano, novamente atendeu quem estava ligando.
Mais tarde, ligou outra moça, agora
era a do cartão de crédito. Ele, um verdadeiro santo, atendeu mais uma vez. Só
que desta vez ele protestou:
- Esse pessoal é fogo. Nem no domingo
à tarde esse pessoal dá um tempo. Francamente!
Nem mesmo o aborrecimento das ligações
durante a transmissão do jogo conseguiu tirar da cara dele o enorme sorriso que
o êxito do seu time do coração havia proporcionado. A alegria tinha sido tamanha
que, mesmo durante a complicada segundona, ele estava com um sorriso largo e contagiante.
Os garotos da vila, já com mais da
metade do campeonato nas mãos, fizeram dele um dos homens mais felizes do
mundo. Ele era só alegria e não via a hora de chegar o próximo domingo para ele
colocar o trio elétrico na rua e comemorar com estilo a grande vitória do alvinegro
praiano.
Só dois dias depois é que ele ficou
sabendo que os telefonemas foram obras dos despeitados e frustrados corintianos,
palmeirenses e são paulinos do escritório. Não deu certo. Para a alegria dele e
de toda nação santista, naquele jogo, tinha dado peixe na cabeça. Fora o
chocolate do Neymar.
Edilson Rodrigues Silva