Ele era um corintiano preto de tão roxo, nem adiantava falar mal do timão. Era só alguém ali do escritório da Receita Federal falar alguma coisa que imediatamente ele retrucava. Ele sempre tinha uma desculpa para aquela derrota humilhante e, também sempre tinha uma boa desculpa até para aquele empate sem graça.
Logo após o almoço ele tinha o hábito de apagar a luz, encostar a porta e depois tirar uma sonequinha. O homem desmaiava. Era um leão abatido com tranqüilizante e, ainda por cima roncava demais, parecia aspirador de pó com o cano de entrada meio fechado.
O pessoal do escritório, um pessoal muito espertos por sinal, com um bom gosto incrível, pessoas que sabiam muito bem o que queriam, pessoas inteligentíssimas e muitissímo bem humoradas. Enfim, pessoas vitoriosas e ainda por cima três vezes campeões do mundo. Eles tiveram uma excelente ideia. Eles já estavam pensando em fazer essa surpresa para aquele colega já há algum tempo e resolveram esperar o dia da feijoada. Como a feijoada é um prato de digestão mais lenta e isso provocava no colega dorminhoco uma sonolência maior do que a de costume. Por isso a quarta feira era o dia ideal, sem contar que o colega, antes das feijoadas, costumava beber um aperitivo, um não, alguns.
Logo depois que ele pegou no sono o pessoal do escritório, na ponta dos pés, foi colocando um banner do são Paulo aqui, outro ali, a formação do time tri campeão do mundo, do time tetra campeão do brasileirão, um pôster do Kaká nos bons tempos, outro do Raí dos tempos maravilhoso do Seu Telê...Mais um do Rogério ceni. E assim foi. Com muita calma e cuidado a sala dele ficou cheia de artigos que lembravam uma equipe vitoriosa de verdade, com o autêntico gosto de triunfo, dava orgulho de ver tanta lembrança tricolor boa reunida em um só lugar.
Para finalizar a surpresa, não podia faltar, o hino do tricolor. Era com ele que o pessoal iria acordar a fera, Ia ser memorável, marcante, inesquecível, todos estavam ansiosos, tinha gente até filmando para a posteridade. Ligaram o rádio num volume bem suave e foram aumentando pouco a pouco para dar um tom mais solene ao acontecimento.
Enquanto isso...
Depois de colocar a isca ele pensou:
- Agora esse sem vergonha não me escapa, ora ele programou esta pescaria o ano todo e não era um espertinho daqueles de mais ou menos uns trinta quilos que iria estragar tudo, ele não sabia com quem ele estava lidando.
Jogou o anzol com a isca preparada especialmente para pegar o espertinho... Deu certo! O danado mordeu, vou puxar antes que ele escape... De repente!
“Salve o tricolor paulista...” Pensou ele que diabos o hino do São Paulo está tocando aqui? Quem é o bobão que está tocando essa porcaria. Logo agora que eu ia pegar esse peixão *&#*!%%$.
Ele abriu os olhos... Viu o Raí, o Kaká, Seu Telê... Esse time era muito bom, pensou ele quando olhou para a seleção, para uma não, para todas as seleções tricolores do passado... Ele ficou ali apreciando, lembrando as excelentes conquistas do São Paulo. Ficou pensando, era tudo culpa do seu pai, maldita hora em que o Seu Armando tinha colocado aquela camisa nele, ele só tinha quatro anos... Tudo poderia ser diferente, tudo poderia ser melhor.
Quando ele reparou que o pessoal todo estava olhando pelo vidro logo atrás dele, logo começou a brigar: Quem foi o babaca que colocou estas coisas aqui na minha sala? Se eu pegar o franguinho ou franguinha que fez isso vou deixar ela verde de tanto trabalhar.....Voltem para o trabalho seu Vagabundos!
Edilson Rodrigues Silva