Voltas que a vida dá - Cronicas do dia à dia


Ele ficava bastante aborrecido quando aquilo acontecia, aquele mendigo que vivia na praça era sempre alvo de gozações por parte do povo.
Às crianças perturbavam bastante aquele pobre homem, era praticamente o dia todo. Havia ali perto uma associação onde se reuniam às senhoras bondosas e caridosas da cidade. Sempre que podiam, davam para ele comida e roupas usadas. Mesmo vivendo em extrema pobreza ele sempre estava lendo alguma coisa, dava para perceber que a leitura era um dos únicos prazeres daquele moço. Não importava a hora e nem o lugar, quando você olhava para ele, lá estava ele lendo alguma coisa.

Quando o morador de rua desapareceu da praça ele começou a pensar:

O que será que aconteceu com aquele pobre infeliz? Quando ele passava por outras praças próximas dali ele observava para ver se o encontrava em alguma delas. Mas ele tinha sumido mesmo. Não estava em lugar nenhum. Alguns diziam:

- Deve ter morrido de tanto beber.

- Vagabundo é assim mesmo, fica um pouco aqui um pouco ali e depois vai embora, disse outra senhora.

Depois de muitas primaveras e verões, num belo dia de sol, ele reparou num homem bem vestido que estava sentado no banco da praça. O estranho parecia muito feliz e radiante. Quando passou perto dele o homem sorriu e o cumprimentou com cordialidade e educação.

Ele pensou: Estranho, não me lembro de ter visto este homem por aqui. Entretanto, ele não me é desconhecido. Foi para casa, mas aquele olhar e aquele sorriso não o deixavam em paz, voltou à praça. O homem ainda estava lá, foi conversar com ele:

- Boa tarde senhor! Da forma que o senhor me cumprimentou parecia até que o senhor já me conhecia.

Sim, eu te conheço – disse o forasteiro. Acredito que você não se lembre muito bem de mim porque eu mudei bastante, mas eu me lembro muito bem de você por que você não mudou muito. Eu era aquele mendigo que andava e morava pelas praças aqui do bairro há muitos anos atrás, continuou ele...

Um dia, aqui na praça, eu passei muito mal. Levaram-me para o médico, fiquei internado por mais de um mês. Lá encontrei um senhor muito bondoso e caridoso que me acolheu e me ajudou bastante.

Depois que eu fiquei melhor ele me deu um emprego no sítio dele, que fica em uma cidade próxima daqui, e também me levou para a igreja. Eu não acreditava em Deus e nem acreditava em nada. Tempos depois o caseiro que trabalhava com ele há muitos anos faleceu e eu passei a ser o responsável pela propriedade. Lá no sitio Paineiras tinha uma casa grande e bonita. Dentro da casa existia uma pequena biblioteca com livros muito bons e interessantes. Como eu gostava de ler, nos momentos de folga eu procurei aprender e a me divertia com os livros. Fui tomando gosto pelas letras e acabei lendo e aprendendo muitas coisas.

O tempo passou senti necessidade de aprender, de crescer e de conquistar. Completei os estudos fazendo os supletivos, depois prestei e passei em um concurso público para trabalhar na prefeitura daquela cidade.

Ao passar no concurso a minha vida mudou bastante. Continuei a estudar e depois eu concluí a faculdade de direito. Prestei novo concurso, agora para trabalhar como o juiz de direito numa cidade do interior, passei e fui nomeado.

É isso! Aqui estou de volta! Vim para começar nova vida.


Edilson Rodrigues Silva

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