Ela sabia que, para o marido, a copa do mundo era muito importante. Era como se aquele monte de homens de pernas de fora, suados e correndo atrás de uma bola fosse algo de sagrado, ela não concordava muito com aquilo, mas respeitava.
Quando chegava a época da copa do mundo o maridão decorava a casa toda, nem no natal ele tinha tamanho empenho, dizia a esposa. O homem colocava bandeiras do Brasil em todos os cantos da casa, no carro, colocou uma blusinha amarela no cachorro, colocou um bandeirão enorme na frente de casa e, na garagem, ele ainda colocou outras menores como se fossem bandeirinhas de São João. Como não podia ser diferente, ele desenhava, pintava e ajudava a decorar a rua. Se o pessoal não tomasse cuidado ele pintava até a cachorrada da rua tamanha era a empolgação do homem com o esperado o campeonato mundial de futebol.
Para a copa do mundo de 2010 na África do Sul ele caprichou. Para aproveitar todos os jogos ele comprou uma TV de LCD de quarenta e duas polegadas: “Com essa TV vai dar até para ver o pensamento do craque” Dizia ele todo animado com o novo brinquedo. Se alguém quisesse assistir a algum filme, novela, jogar vídeo game... Podia tirar o cavalinho da chuva porque com ele não tinha negociação: Não! Essa daí é só para a copa. Dizia ele.
- Benhêêêê! Esse ano você vai convidar o pessoal da rua para assistir aos jogos com você? Perguntou a esposa.
- Claro querida! Vou chamar os camaradas, vamos fazer um churrasquinho, umas porções, contar umas piadas e na hora do jogo concentração total... Respondeu o marido.
- Amor! Você não vai convidar o Batista vai? Perguntou a esposa.
- Demorô! Claro que vou amor. O Batista é o meu mano do coração, prá mim, ele é como um verdadeiro irmão. Eu já te contei que a gente se conhece desde o ginásio... Por que a pergunta querida? Você não gosta do Batista, ele é o meu camarada, ele fez alguma coisa para você? Ele te desrespeitou? Surpreso, perguntou o marido.
- Não é nada disso amor. É aquela mania que ele tem de usar desde a copa do mundo de 1970, a mesma camiseta da seleção, a mesma cueca e a mesma meia. E, isso sem lavar.
Eca! Eu acho uma mania muito esquisita e anti-higiênica, sem contar que cheira mal prá burro. Na copa do mundo de 2006 já foi jogo duro quando ele vinha abraçar a gente, imagina agora... Vou ter que dar o drible da vaca nele se ele quiser me abraçar... Em tom de brincadeira, respondeu a esposa.
Edilson Rodrigues Silva
