Já estava combinado: todo sábado à tarde era dia de jogar taco – aquele jogo que tem o taco de madeira, casinha de madeira, e tem que ficar cruzando e batendo os tacos caso o companheiro consiga rebater a bola e mandar ela bem longe do adversário – por falar em rebater a bolinha, algumas vezes essas rebatidas acabavam indo parar nos lugares mais estranhos possíveis: nas vidraças dos vizinhos, nos carros, nas pessoas que passavam próximas, nas lâmpadas e também no bar do seu Antônio.
Quando a bolinha ia parar dentro do bar do seu Antônio era problema, se outra pessoa a pegasse devolveria porque todo mundo gostava de ver a turma jogando taco, era uma turminha muito feliz e animada, só que a animação logo terminava se fosse o seu Antônio quem pegasse a bolinha, era facão na bolinha, com certeza, isso era.
A bolinha que eles usavam para jogar era dessas bolinhas de camurça que são usadas nas partidas de tênis, quando o seu Antônio pegava alguma delas ele cortava imediatamente ela ao meio como se estivesse cortando uma laranja e depois jogava na rua.
Havia dias em que a única bolinha do jogo tinha a infelicidade de parar nas mãos cruéis do temível dono do bar, aí não tinha mais jogo não, a molecada ficava triste e era insulto de tudo quanto é jeito para o cortador de bolinhas inocentes.
Às vezes ele estava de bom humor e até liberava a bolinha sem ferimento nenhum, ele não fazia nada para a pobre, mas na maioria das vezes ele passava a faca, principalmente se tivesse quebrado alguma coisa ou acertado alguém lá dentro do bar.
Num certo dia, estava lá dentro do bar do seu Antônio, um cara que já havia bebido todas e mais um bocado ainda. Ele estava deixando todo mundo irritado e ninguém estava suportando mais a presença do cidadão, por obra do destino, neste dia, que era um sábado à tarde, a garotada estava jogando o tão prestigiado joguinho de tacos.
Foi então que numa rebatida fenomenal a bolinha atinge uma velocidade nunca antes atingida na história deste país e acerta em cheio a cabeça do cidadão que estava perturbando o dominó da turma lá no bar do seu Antônio.
Assim que o cidadão recebeu a pancada na cuca, ele foi a lona, caiu feito um coco maduro. Como o homem estava nocauteado e completamente sem sentidos, tiveram que chamar o resgate que levou ele para o hospital mais próximo e nunca mais ouviu-se falar dele.
Depois deste dia o Seu Antônio não era mais a mesma pessoa, ele começou a olhar o jogo de taco diferente: de três bolinhas que caiam dentro do bar, ele só cortava uma.
È! não tinha mudado muito não. Mas já era uma evolução.
Edilson Rodrigues Silva