Ding! Dong!
- Pois não?
- Doutor Armando, um rapaz deixou esse arranjo na portaria e falou que era para entregar na sala 23.
- Está certo, obrigado! Por favor, coloque lá na mesa.
Que coisa interessante. Ele jamais havia recebido flores de alguém quem poderia ter lhe enviado tão lindas flores? Pensou Ele.
Enquanto ele estava admirando a beleza do presente, ele viu entre as flores o delicado cartão. Vamos ver quem me enviou este lindo arranjo:
“Doutor, muito obrigada pela sua amizade, dedicação, carinho e amor”.
Uma mulher, mandando flores para ele, quem seria? Agora a curiosidade ficou do tamanho do Himalaia. Quem será a misteriosa admiradora que, num gesto tão criativo e ousado, havia lhe enviado aquele lindo arranjo de flores? Ele começou a pensar nas mulheres que ele conhecia e ficou a imaginar qual delas poderia ser?
Será que era a morena do primeiro andar? Outro dia ela sorriu para ele, assim, digamos meio diferente, todo cheia de charme ou será àquela garota do oitavo andar, eles sempre se encontravam no restaurante e conversavam um pouco. Será que ela estaria querendo uma aproximação maior? Quem sabe algo mais do que uma simples amizade?
Como ele conhecia muitas mulheres estava ficando difícil imaginar qual delas poderia ser. Quem sabe ela não ligaria mais tarde para ver se ele havia recebido o presente e também para saber se ele tinha gostado.
Já havia se passado mais de seis horas desde o recebimento do presente e nada de alguém ligar. A curiosidade dele estava deixando-o completamente desconcentrado. Ele não tinha mais cabeça para ler ou avaliar processo nenhum. Enquanto aquele mistério não fosse desvendado ele não teria como se concentrar no trabalho. Eram casos e mais casos para avaliar... Tudo teria que ficar para mais tarde. Quem será que havia mandado o arranjo?
Triiiiiiiimmmmmmmm!
- Alôôô! Mal o telefone tocou, num movimento muito rápido ele atendeu, já imaginando que do outro lado da linha estaria a misteriosa admiradora.
- Doutor Armando, é o Chico da mecânica, o carro do senhor vai ficar pronto às quatro horas da tarde, era só um probleminha com o alternador.
- Ok Chico! Quando for por volta das seis da tarde eu passarei por ai para pegar o carro. Por favor, deixe tudo arrumadinho para mim, muito obrigado.
Uma nuvem de elevada ansiedade e frustração começava a tomar conta do seu coração... Quem será ela?
Mais de uma hora havia se passado quando:
Ding! Dong!
Quem será agora? Pensou ele. Será que agora era ela? Olhar pelo olho mágico ou não olhar? Foi até o banheiro ajeitar o cabelo e a roupa. Tenho que causar uma ótima impressão. Direi a ela que adorei o presente, que achei muito original e criativo...
Ding! Dong!
É melhor atender antes que ela fique nervosa ou pense que não tem ninguém. Agitado feito um colegial ele foi abrir a porta:
- Bom tarde Doutor Armando! Queira me desculpar, cometi um engano terrível. Aquele arranjo de flores que eu entreguei para o senhor na parte da manhã, na verdade, era para o Doutor Lucas, o médico da sala 26 e não para o senhor. Eu espero que senhor que me perdoe, não sei onde eu estava com a cabeça para cometer um engano desses.
Ligou uma moça brava dizendo que eu não havia entregado as flores e, eu falava para ela que havia entregado. O senhor precisava ver a confusão que deu. Até o sindico entrou no caso. A minha sorte é que eu lembrei que entreguei as flores para o senhor. Doutor, mais uma vez e te peço desculpas por causa desse mal entendido. Muito obrigado por ser tão compreensivo.
A nuvem de ansiedade que existia no ar tinha se transformado numa terrível tempestade de frustração com decepção. Agora, nenhuma dúvida mais restava. Novamente ele estava completamente ocupado com os seus muitos processos e, infelizmente, solitário no coração.
Edilson Rodrigues Silva