Há muito tempo que ela queria comprar uma sandália de couro daquela bem baixinha e com muitos detalhes de flores coloridas. Uma amiga falou que este tipo de sandália ela só encontraria lá na cidade de Embu das Artes. Outra amiga falou que bastava ir até o centro de tradições nordestinas que lá com certeza ela iria encontrar a tão desejada sandália.
No entanto, num belo dia de sol, quando estava quente pra burro, passeando pelo centro da cidade com uns colegas do curso preparatório para o concurso de Professores qual não foi à surpresa dela quando chegaram próximo à Praça da República ela se deparou com uma barraca hippie que tinha de tudo que era legal inclusive as sandálias chatas e com um montão de flores coloridas. Sem pensar muito ela comprou um par e logo colocou no pé.
Quando ela foi atravessar a Avenida São Luiz, colocou o pé numa parte do asfalto que estava muito mole e a sandália ficou presa lá. Como o semáforo tinha ficado verde para os carros ela deixou a sandália para lá e foi para o outro lado da avenida, de lá ficou observando e pensando em como ela ia resgatar a tão querida sandália.
Assim que o semáforo abriu para que ela atravessasse, ela correu e puxou com força a sandália que estava presa no asfalto, puxou uma vez e não consegui tirar porque a sandália estava bem colada por causa dos carros que passaram por cima dela inclusive um ônibus que deixou marcas escuras no calçado. Um rapaz ao ver a dificuldade dela a ajudou a tirar o calçado do grudento asfalto. Ela teve um pouco de trabalho para tirar as manchas de asfalto que havia colado na parte de baixo da sandália, mas o telefone do rapaz que estava na parte de cima ela nunca mais apagou porque virou parte da sua história.
Embora a sandália seqüestrada pelo asfalto tenha ficado um pouco mais escurinha do que a outra, ela não se importava muito porque o maior seqüestro tinha sido o que aquele rapaz havia feito com o seu coração. Tanto que ela não havia ainda pagado o resgate. Estava cativa até os dias de hoje, cativa, prisioneira, escrava daquele amor que havia começado tão grudento e que para sorte dela continuava assim: nenhum pouco chato e muito florido.
Edilson Rodrigues Silva
