- Essa peça, minha senhora, é única! Essa daí foi trabalhada em casa pelo meu primo Reginaldo que trabalhou juntinho com o compadre Vitalino. Inclusive ela é da minha afeição particular. Só tô vendendo mesmo porque estou carecendo muito de ajuntar um dinheiro extra prá ver se eu consigo trazer para a nossa querida Cidade a minha irmã Severina que está em São Paulo. É um gosto meu fazer com que a minha irmã, depois de vinte anos, conseguisse ver de novo a nossa mãezinha antes que ela entre no descanso eterno. Disse um senhor muito simples e simpático que estava vendendo aquela escultura e outros artesanatos numa feira nordestina ao lado de uma grande Festa Junina.
A senhora, como tinha gostado muito da peça e, também havia ficado bastante sensibilizada e comovida com a história do senhorzinho, resolveu comprar a escultura que representava uma banda de pífanos, obra muito característica do artesanato nordestino. Agindo assim ela pensava estar fazendo um excelente negócio e ainda ajudaria aquele homem simples a realizar os sonhos dele.
Ela comprou a peça e depois foi até o arraial fazer um lanchinho. Na quermesse tinha sarapatel, Buchada de bode, feijão de corda, escondidinho, Galinha a cabidela, cuscuz, cocada, doces em geral e todas aquelas coisas gostosas que a gente encontra numa verdadeira quermesse. E assim foi. Depois de, como se diz no nordeste, encher o bucho, ela ficou apreciando as maravilhosas quadrilhas que se apresentavam ali. Que maravilha! Isso que é quadrilha! Arre égua! Isso que é São João! Com entusiasmo, ela repetia isso muitas e muitas vezes.
Mais tarde, ao retornar ao início da feira de artesanato, qual não foi à surpresa dela ao ver na barraca do humilde tiozinho uma escultura idêntica àquela peça única que ela acabara de comprar. Só que na barraca não estava mais o tiozinho e sim uma senhorinha que agora dizia:
- Minha senhora, essa escultura que a senhora esta vendo foi feita pelo meu primo Geraldo, discípulo direto do Mestre Vitalino. É uma peça única. Seria tão bom se a senhora comprasse, pois eu estou com problemas sérios do coração e gostaria muito de voltar prá minha casa querida que fica na minha cidade natal e... Com uma conversa de dar dó em cangaceiro a tiazinha também mandava ver na embromação.
- Se eu não tivesse gastado quase todo o meu dinheiro aqui nesta barraca, se eu não tivesse acreditado no senhorzinho que a menos de uma hora atrás estava aqui neste mesmo lugar que a senhora está e, que me vendeu esta linda escultura, tão única, como essa que está aí nas mãos da senhora, quem sabe eu não poderia ajudar a senhora a comprar, o remédio, a passagem para a sua cidade natal e ainda sobraria um bom dinheiro para comprar um bom pedaço de madeira para esculpir a senhora e o ilustre senhor que me atendeu.
Edilson Rodrigues Silva